No dia da abertura do Pan-Americano, Rio de Janeiro é palco de ato público
-->Vanessa Ramos,- do Rio de Janeiro (RJ)
Em frente à sede da Prefeitura, na avenida Presidente Vargas, servidores públicos, movimentos sociais, partidos políticos e delegações de outros estados reuniram-se, no dia 13, para realizar um manifesto social. O objetivo era criticar a violência, a miséria, a desigualdade social e os gastos públicos destinados às obras do Pan-Americano que, de acordo com Cyro Garcia, presidente estadual do PSTU/RJ, foram superfaturados.
Estiveram presentes no ato políticos, funcionários do Ibama, do Incra, representantes da OAB/RJ e líderes de diversos movimentos sociais, como o MST, o Fórum Estadual de Luta pela Reforma Urbana (Felru), a Rede contra a Violência, a Frente contra Remoção e pela Moradia Digna e a CUT/RJ. Entre as declarações feitas por eles, a mais repetida foi sobre o possível superfaturamento do dinheiro designado às obras do Pan. Sem nenhuma licitação, foi gasto um valor muito mais alto, R$ 3,75 bilhões, do que o planejado, R$ 800 milhões.
Para Chico Alencar, deputado federal do PSOL, esse protesto representa a consciência carioca sobre a corrupção no Pan. "Há dois anos, os gastos previstos com as obras eram dez vezes mais baixos que o valor usado hoje. O que não deixa dúvidas que é um evento altamente lucrativo para o governo e empresários que visam a especulação mobiliária", conta. Jefferson Moura, presidente estadual do PSOL/RJ, completa: "nós vamos abrir uma CPI para apurar todos os gastos com a obra".
Violência
Durante a manifestação, a ação da Polícia Militar no Morro do Alemão, realizada em junho, foi alvo de crítica. Além disso, panfletos acusando o prefeito César Maia (DEM) de estar “limpando” o Rio de Janeiro para receber turistas no período do evento foram distribuídos para os presentes. Segundo o conteúdo dos informativos, César Maia persegue mendigos, moradores, crianças de rua, catadores de papel, de latinha e prostitutas, para deixar a cidade "limpa". "A maioria dos mortos são negros e pobres", conta Cyro Garcia.
Até Cauê, mascote do Pan 2007, estava representado em impressos com uma arma de fogo nas mãos ao lado do caveirão, carro blindado utilizado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro nas comunidades pobres da cidade. Apesar de tudo, Jefferson Moura esclarece que esse não é um ato contra o Pan. "Nós queremos que o Pan-Americano seja festejado com alegria. O esporte é muito importante para a sociedade", diz. A manifestação representa um protesto contra os interesses econômicos dos investimentos no Rio de Janeiro que "estão longe de ser uma alavanca para o desenvolvimento urbano", afirma Moura.
De acordo com o Léo Haua, da direção nacional do MST/RJ, os recursos gastos pelo governo brasileiro são muito maiores que os valores usados pelos países que também já sediaram o Pan. “[Além disso,] O evento esportivo não deixa nenhum desenvolvimento para a sociedade. Lula e César Maia fizeram uma política de violência na cidade", critica.
Futuro
E, Cyro Garcia prevê impactos socioeconômicos negativos para um evento dessa dimensão no estado. De acordo com ele, o resultado do Pan pode contribuir para o aumento da segregação social no Rio de Janeiro já que a maior parte dos investimentos ficou restrito a Zona Sul. "A aplicação de recursos na urbanização da cidade não vai melhorar em nada a situação da população. Pelo contrário, vai deixar um número de pessoas despejadas muito grande", afirma, referindo-se a ações do governo contra famílias do Engenho de Dentro, local onde foi construído o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão.
Contudo, Chico Alencar, do PSOL, espera que os equipamentos esportivos, comprados para Pan-Americano, possam ser utilizados pela população pobre após o evento. "Quando construíram o Sambódromo, havia uma preocupação em manter o espaço utilizado pelos cidadãos após o término do Carnaval. Espero que a mesma preocupação mantenha os equipamentos esportivos em uso contínuo nos próximos anos", desabafa Alencar.
Apesar de a manifestação ter permanecido por quatro horas em frente à sede da Prefeitura, não houve conflito com a polícia. A concentração do ato público iniciou às 10 horas. Às 14 horas, os manifestantes se organizaram para dar início à passeata com destino a Candelária, também no centro do Rio de Janeiro.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
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